O sopro passa e com ele me leva. A chuva não vem, mas por dentro me encharca.
A ausência existe mas permaneço sem ela. A dor existe e o amor se revela.
"Não chora menina triste", eu disse. Ela fecha a janela.
Não vê o amor passar pertinho por trás dela;
mas ouve toda nota torta observando cada gota que cai, mesmo que singela.
Não grita, eu te escuto respirar e por amor ao teu calor já sei que há vida.
Ela chora longe, por dentro, me observando como quem guarda o amor para o melhor momento.
Eu digo: "não chora menina que o teu amor se encontra no final dessa esquina".
Ela não diz, apenas limpa os olhos e parte rumo a qualquer lugar, livre como quis.
Eu vejo a sua silhueta delicada se contorcendo ao caminhar e desaparecendo ao descer a escada. Num momento ofuscante, meu olho endurece com um ar gritante. Não sei se choro, se grito ou se silencio.
A dor aumenta, mas traz paz. Num instante meu grito se faz: "não chora menina! Volta e vem ver que o sol nos espera por trás dessa porta."
Ela só pàra, intacta, dura e nada diz. Volta sem olhar pra mim, com a cabeça baixa. Desconheço esse orgulho.
Sinto por dentro as estrelas que haviam no olhar sumindo sem avisar. E num instante, me despenco a chorar. Começa a chover mas não sinto. As lágrimas não caem, não silenciam, se petrificam na dor. O silêncio grita pra lembrar que aquele grito não é meu. Eu choro. Lamento. Me desvio e saio correndo. Como disse que eu faria. Mas eu digo: "Por favor, você disse que não choraria."
Ela não chora, não se exalta. Nada diz, me observa e sai. Livre como quis.
Querer verdadeiramente livre é o próprio.
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