sábado, 14 de abril de 2012

Incompreensível instabilidade que liberta

A nossa percepção depende das nossas influências, das nossas prioridades, da nossao conveniência e principalmente da nossa essência. Jamais ousaremos de fato, interpretar a forma de percepção do outro. Isso é improvavelmente possível. Por mais parecida que seja a vivência, jamais pertencerá a mesma essência. Somos essencialmente imperceptíveis ao próximo e desentendedores de nós mesmos. Afirmamos a compreensão do outro com ênfase, certos de nosso entendimento. Mas não há compreensão alguma, não há percepções similares, é algo interpessoal, é um desentendimento necessário. Não existe ser amado, se não amamos. O ato de amar já é a retribuição, já é o caminho, já é ser amado! Amamos para a nossa satisfação, não para a do outro. Amor é um individualismo transcedental, que atravessa e desfaz a barreira que separa o compreensível da complexidade. Não há como amar pelo outro ou para o outro. Ele não terá mais amor é nem será mais amado; será falsificado. Não é amor se amamos apenas para o outro e não por respeito ao que sentimos, se lutamos pelo sonho do outro e não pelos nossos, se vemos mais amor no outro do que em nós mesmos. Amor é projeção. Enxergamos somente o que depositamos. Não há como ver amor nos detalhes, se não detalhamos nosso amor. Não vemos nem se quer detalhe, pois o detalhe, o despercebido, já é amor.

A questão posta e a solução indisposta (pois não há solução alguma, somente adaptação) é que jamais seremos amados, jamais seremos compreendidos e jamais compreenderemos a escolha e a decisão do outro. O que precisamos para nos libertar das amarras que nós mesmos criamos é amar. A pessoalidade e individualidade são tão densas e complexas que transcendem o compreendimento e nos aponta a inexplicável essência do ser humano: sua incompatibilidade racional através das escolhas e das decisões, sua natureza espontânea e envolvente e sua profundidade ilimitada. Todos esses conceitos transpessoais que se entrelaçam e se adaptam entre si, são baseados e constituídos por uma única engrenagem: o órgão que vai além do organismo; além do existencialismo, que permanece quando todo o resto some. O sentimentalista, instável, contraditório e impulsivo, aquele que segura a linha tênue entre cor e ação, que se desfaz em coração.


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