quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

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Chega uma hora na vida, ou duas, três, ou talvez a vida inteira em que a gente se pergunta qual o motivo de tanto drama, tanto conflito, tanto sentimentalismo pra tão pouca responsabilidade e discernimento pra argumentar ou julgar alguma atitude como inadequada, medíocre, incrédula. Como se fosse possível calcular o pensamento e a intenção do indivíduo com os olhos da face, com a boca aberta e com o dedo reto. O caralho. É difícil de aceitar e lutar contra a maré quando encontramos no nosso próprio julgamento aquilo que a gente faz sobre as entrelinhas mais obscuras e solitárias do nosso interior. É difícil aceitar que o erro é inevitável quando o medo em demonstrar a dúvida é maior do que a certeza do errado. Chega uma hora em que a gente entra em colapso com o ego e com o lado inconsciente das nossas certezas. Tudo que a gente preza acaba sendo confundido com as nossas repulsas e críticas remoídas interiormente. Só falta puxar o gatilho pra aliviar a dor. Mas a intenção primordial não está no quanto dói ou em alguma força maior, algum espírito sagrado ou superior que nos impulsa a isso, (mesmo porque é balela pra fugir de todas as situações difíceis que colocamos diante de nós, consciente ou inconscientemente.) a intenção é que nos deparemos propositalmente, com todos os nossos nós, nosso lado que precisa ser liberado, que cansou de ser remoído e reciclável, que já está podre, está em carne viva, mas que só demonstra um sentimento morto. O que conforta é saber que a morte é um ciclo da vida. Tudo que não morre já está morto.
Chega uma hora em que a gente sente que alguma coisa precisa morrer. A intenção de tudo isso é reconhecer que tudo o que a gente julga, de uma forma ou de outra, acaba fazendo parte do que nós somos, do nosso lado obscuro, daquelas entrelinhas que martelam o nosso cérebro delicadamente como se o vizinho ao lado sempre estivesse em obra enquanto pensamos antes de dormir. É uma sensação estranha que se traveste em desespero, mágoa e angústia. Por um tempo a gente sente que todas as nossas diretrizes conscientes que nos separam do que realmente somos, do nosso ego e super ego se mesclam, entrando em um conflito interno que se adapta ao externo. Um desejo de repulsa e ânsia que consome o corpo, acaba consumindo uma parte da alma. Chega uma hora desesperadora na vida em que a gente se dá conta de que a nossa vida daria um filme do Bergman.  É difícil de lidar, mas o equilíbrio está em lidar; não em fugir. O lado bom é que o desespero se torna tão bonito quanto a arte de lidar com isso. O lado ruim é um ponto de vista. Chega uma hora na vida em que a vista se resume a um ponto. E o que a gente pensa, faz ou sente se resume a insignificância do que a gente é. O lado bom é continuar sentindo essa insignificância. O ruim, é levar isso a sério.