segunda-feira, 18 de novembro de 2013

E eu que pensei que não poderia nadar como antes, vi você se afogar. Eu nem pensei duas vezes até me jogar nesse mar frio de incerteza e insegurança. E eu que pensei que iria olhar pra trás e perceber que a sombra do que fui é o que me faz retirar toda a certeza de recomeçar. Eu nem percebi que aquele sorriso pertencia a mim. Ninguém mais me arrancaria o gosto de olhar pro lado e ver no rosto de alguém que quis ser feliz em tudo que era triste e impossível de amar. Ninguém mais saberia o que é sentir aquela dor que ela sentia. Parecia nossa. Não era mais dela, mas minha. A gente sempre percebe que um pouco de sensibilidade faz mal pra alguém, mas não pra você que estava cansada de socorrer quem nunca olhou além do que o olhar vê. Não dá pra olhar pra frente sem ver que além da estrada você me faz querer viver como alguém capaz de arrancar toda essa a dor que isola a tua paz. Soltar toda essa raiva não adianta nada se não for por você. De vez em quando eu olhava cabisbaixo de novo, tanta gente olhando e te apreciando como abutres. Mal sabiam que aquele rosto não estava morto. Era uma tristeza quase impenetrável, porém não pra um lobo. Só estava cansando ou repousando a dor que já não latejava mais, só amortecia a dormência do que restava de rancor nas entranhas. Não sabia que esperava por alguém até me ver chegar e limpar aquela lágrima que caía do teu rosto e olhar nos olhos como se estivesse encarando a própria solidão e o próprio reflexo. Não do que fui, mas do que eu sempre serei. Incompreensão. E por sermos incompreendidos eu me rendo a qualquer risca tudo que me for de essência por um pedaço desse amor. Não me compreenda, não responda meus anseios, não aquiete a minha alma. Me tire do lugar, me faça lutar por algo distante, me faça cuidar de ti por um instante. Te provo que sou leal à tua doçura e que homem nenhum jamais vai notar o que vejo nos teus traços mais profundos, nas tuas raízes mais opacas, nos teus defeitos mais inertes. Me deixa te machucar algumas vezes, te fazer chorar por apreciar tua dor porque não há nada mais bonito. Cuido de você e choro contigo. Me deixa fazer prometer que ninguém mais lhe fará isso. Nem machucar por prazer, nem encostar em uma lágrima tua sem sentir por dentro metade do que ela significa. Compartilha o teu desespero comigo. O teu medo da solidão. Me faz ser sozinho, me faz triste, me faz um garoto ferido, mas me faz um homem pra ti. Me deixa ser tua raiva, tua brutalidade. Me empresta tua delicadeza nos gestos e teu abraço sincero pra suportar a superficialidade que nos cerca. Me traz tua indiferença e te dou minha indignação. Me empresta o poder do teu raciocínio que eu te dou a flexibilidade do ser criativo. Me faz teu porto que o meu navio é teu. Me dá a chave do teu coração. Eu te dou o meu coração por inteiro, porque a chave já devo ter engolido há algum tempo. Me traz qualquer resquício do teu sorriso. Eu te ensino a comunicação vulgar da crítica e você me mostra o dom de silenciar. A gente não precisa combinar, fazer acordo, rotular ou padronizar. Só quero a tua permissão. E qualquer abismo não me abala, qualquer barreira não passa de um detalhe. E ninguém nesse mundo vai poder nos separar, não do lugar que nos pertence, das nossas lembranças, do que você vai guardar de mim, da nossa incompatibilidade perfeita, por mais que um dia queira, exista ou inventem o fim.

domingo, 8 de setembro de 2013

Eu sei que somos maiores que o drama, eu sei que somos melhores do que somos. Eu sei que não somos. Eu não sei bem o que sei, mas sinto que deveria saber e sempre prefiro sentir ao saber. Prefiro me descobrir no que sinto do que querer saber demais sobre o que só vive através do desconhecido. O mundo inteiro sabe, o mundo é sábio e nos julgamos felizes e certos por isso. Vivemos em um mundo extraordinário e incrível. O mundo deixou de ser o detalhe, começou a ser o centro. Quanto mais tivermos do mundo, melhor. Mas é um equívoco. Jamais teremos se quer um grão de areia do que julgamos obter. Nós somos parte do todo, e como parte, somos um detalhe; e o detalhe nada obtém. Tudo absorve, tudo que é invisível nos acrescenta, tudo que ousamos possuir nos destrói. Esquecemos que há um mundo em cada detalhe e que cada mundo é apenas um resquício no infinito. O meu medo é ser igual a todos que já disseram amar de verdade. Quem ama não diz. O amor é raro às palavras e sensível ao verbo. Não digo que amar não é pra qualquer um porque qualquer um é amor. O amor é pra todos, o amor é sutil, amar é se reconhecer pequeno num imenso oceano de sensibilidade que está no detalhe e não no incrível. Está no diverso e no sorriso, não no tamanho do abismo. Esqueço o que eu sei sobre amor. Sinto que me esqueço de amar quando penso que sei demais. E isso é um paradoxo se o que aqui escrevo é só por amor. Mas vivo por isso. Não importa o quão entendedores nos julgamos, o quanto vivenciamos para encontrar amor no outro se não vigiamos o nosso olhar. Quando tu diz, ele já foi. O amor está no discreto, no pequeno, num abraço meio abalado, no sorriso errado, no corpo gelado que espera tanto quanto dói. Ele inibe a dor, esmaga todos os sentidos, distorce o tamanho, ocupa o que parecia transbordado e se dissolve no vazio, no nada ou em si mesmo. A gente sente nada além de tudo que jamais pensou em sentir. É tão grande que nem cabe ali, não nos cabe. Ele dança entre a gente. Ele nos escorre pelos dedos, pelos nossos cabelos, nos faz brilhar e nos faz enxergar mais em nós mesmos. Nos sentimos refletidos no outro, compreendemos o olhar e faremos qualquer coisa por esse amor que se materializa através das nossas veias e deságua no pulsar de um coração colado ao outro. Ele tem tanto à nos dar, a nos fazer sentir que não poderia se ocupar nas palavras. Está em cada letra de quem diz, em cada frase dita pela boca de quem ama. Mas só vai até a boca, pára no corpo, porque o amor toma o o ser, não se importa com o verbo. Quando se dissolve no ar e destrói a incerteza do que se sente, ele nada mais é do que desgaste. É até um perigo eu dizer o que sinto se dizer me distancia dos meus sentidos. É superficial aquele quem muito diz o que sente. Mas eu escrevo, escrevo porque sinto muito, e, de alguma forma isso amplia minhas percepções, principalmente dos meus sentimentos. É engraçado quando percebo que há amor nessas palavras, quando na verdade não há. Há amor em que lê, não nas palavras de quem escreve. Quem escreve necessita do amor de quem lê, para que nas palavras, o amor do escritor se reconheça em você.

sábado, 7 de setembro de 2013

A parte é o que nos faz partir

Toda vez. Toda maldita vez que eu abro os olhos e enxergo o que não deveria ver reparo no paradoxo natural da vida, na contradição de todos os fatores multiplicáveis que se resumem à todas as coisas indivisíveis se distorcendo à hipocrisia humana. Não é grande verdade que o ser humano seja a maior forma viva do quão imbecil a genialidade  possa ser. Não é grande verdade que o ser humano seja a única raça criadora e criatura que exista nesse planeta; tão certa de si e egocêntrica que é capaz de constituir um líder imaginário,  um ser supremo e dono de todas as coisas possíveis e impossíveis existentes, não-existentes e que ainda hão de existir, construído e moldado fisicamente, psicologicamente e frequentemente através dos padrões humanos de análise. Como um ser espiritual projetado em um nível de compreensão inalcançável, porém, com julgamentos, condenações e conveniências humanas. Sentimentalista e obsessivo ao ponto de vista de qualquer um que julgue a si mesmo pecador. Mas quem criou Deus senão o ser humano? Quem é o grande criador de todas as coisas possíveis e impossíveis, pensáveis e impensáveis, existentes e inexistentes? Eu só vejo a humanidade julgadora do universo, de todo o desconhecido vendo como base um Deus: a eterna hipocrisia travestida de paradoxo, o inacreditável em forma de conveniência. É inacreditável que ainda precisemos de Deus para existirmos. Por que não a contradição que é ser indivíduo e parte de tudo ao mesmo tempo, a busca maior pela compreensão de si mesmo ao invés de algo incompreensível mas condenador? O criador somos nós e tudo que envolva pecado está em Deus. Porque quem cria não tem medo da pressão, quem cria já se pressiona demais em tudo que faz. Quem cria não tem receio da condenação. Abençoemos os que ainda criam. Todos levamos um pouco de culpa no que somos. Somos culpados por existirmos e talvez o peso seja necessário para que a essência não morra. O ser humano tão íngreme e objetivo, capaz de destroçar qualquer certeza e liquidar com qualquer imposição, indo além do olhar e da própria existência. Não é grande verdade que a humanidade seja a maior destruidora de paradigmas. Isso é incrivelmente desafiador à todas as outras coisas vivas que ainda existem com a coexistência do ser humano. Eu generalizo porque somos engrenagem e a parte nada é senão o resto do todo. O resto nunca tem grande importância, senão sustentar toda a merda e o lixo do todo.  Sustentar. Para a humanidade isso tem pouca importância. Todos querem o topo porque a arrogância e a ganância é o que faz pulsar um Deus estabelecido por fatores egoístas. Deus nos põe no topo porque ele é conveniente à insignificância de tudo que o ser humano quer. A humanidade nem sabe o que quer além de estar no topo. Todo o resto é pecado e eu imploro, do fundo do coração, do fundo da minha insignificância que alguém abençoe os pecadores. Os sustentadores desse planeta criado por um Deus que só abraça o topo. Uma raça individualista ao extremo e extremista à todas as coisas miseráveis. Se Deus faz parte de alguma coisa, ele faz parte dessa raça, faz parte do topo; não do todo. A gente quer gritar por liberdade, almejar a liberdade, mas jamais ser livre. Porque ser livre dói. Cuidar e ser responsável por si mesmo dói e, nós não queremos dor. Queremos Deus. Queremos alívio pelo que não precisa aliviar. Não queremos sentir nada além de segurança, que é sentir o mínimo para sobreviver. Sobrevivência é o que esperamos de Deus. E eu ainda acredito na existência de um Deus que vive, que viva o suficiente para permitir a vida, respeitar e conspirar a favor de todo o resto que sustenta o lixo. Eu ainda acredito num Deus que faça nada além de afastar Deus da humanidade. Eu acredito que assim como o vazio, a humanidade possa ser flexível a ponto de sustentar e recriar tudo que favorece o topo e isola o resto. Independência! É o que clamo por todos. Morte! é o que grito ao topo.

domingo, 1 de setembro de 2013

A gente se desconhece no que escreve

Não podemos tudo o que queremos porque a gente não sabe o que quer e nem mesmo sabe do que é capaz de ser. Mas sente que é. Nós não aprendemos tudo o que queremos saber porque não precisamos saber de tudo, não vamos saber de tudo e não podemos saber tudo. A gente precisa se equilibrar na corda bamba entre o tudo e o nada. Jamais escolher um dos dois, porém, saber nas entrelinhas que estimulam as entranhas de ambas as extremidades no seu máximo. O máximo não é a totalidade; é a suficiência.  A suficiência não é o suficiente mas pela gente nos basta. Eu sei, é um pouco triste às vezes imaginar que sinto tudo que posso por ti. Na maior parte do tempo tento me desvencilhar disso porque é tolice. Mas na maior parte do que resta do tempo é o que sinto: um pouco do tudo. E o pouco já me parece o suficiente pra trocar tudo por você. Por nós. Por encontrar em ti tudo que eu tento e não consigo sentir somente por mim mesmo. Quando a gente não é capaz é porque não quer saber ou por não saber se quer. Quando se tem certeza do que sente é porque a insuficiência de querer é maior do que a existência de si mesmo. Precisamos enfatizar no que sentimos de que somos maiores do que os nossos sentimentos. Não existe meio termo porque o tempo é curto e o meio é uma tentadora válvula de escape, é se esconder num grão de açúcar e ter ciência de estar seguro. Como ainda somos ensinados a sermos tão inocentes a ponto de pensarmos que segurança é ficar? O comodismo nos distorce todo e qualquer sentido. Segurança é estar morto. Estar confortável é ter medo de lidar com qualquer tipo de responsabilidade que vá além da negação de tudo que (não) vive em uma tela. E a tela. A tela é todo o nosso receio, nossa angústia, nosso pavor projetado em tudo que é falso. O falso jamais é tudo. Mas tudo nos soa falso quando projetado em uma tela. É ilusão. Eis o significado de tudo: ilusão. Mas nada é mais ilusório do que a tela. Nada. Nada mais insignificante do que a superficialidade e a indiferente escolha pela estagnação interna: a mágoa. Negar tudo que vive constantemente mesmo que de forma cética e prezar pela ânsia de viver por tudo que está podre. Tudo que não apodrece já nasceu putrificado. Não descarto a relevância, mas também não descarto a arrogância de nada que vive. Não, o nada não vive, mas a vida é um pouco do nada. O nada é a negação, não o niilismo. Querer o nada é ainda querer alguma coisa. Esperar nada é niilista. Esperar nada não existe. Estamos sempre esperando alguma coisa. Não é por crença, nem por ceticismo. É por saber da existência daquela linha íngreme e tênue que está entre o tudo e o nada. Não separa, porque nos confundimos muito com nada e nos decepcionamos demais com tudo. Mas nada é mais covarde e repugnante do que recusar ambos. Nada é mais miserável do que se confundir nos dois. Nada é mais do que tudo porque o tudo ao nada pertence. Contradição, o que resta entre o tudo e o nada. Contradição é o que resume a vida. Se transforma em ironia quando pensamos saber muito sobre ela. A gente não sabe nada sobre a vida e sentimos tudo que ela nos traz. Ela, sagaz e perspicaz, sabe lidar com tudo por ver o nada no que nos tornamos. Mas por ti, eu sinto que nada tenho senão tudo que nos pertence.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Eu sempre quis largar a nitidez pelo aconchego

A vida é degradê. Não somos um todo, mas uma parte. Somos mesclados. Jamais puros, jamais inteiros, jamais estagnados. Somos eternos pois somos parte, somos a transcendência de tudo que foi e que há de vir. Todo futuro nos pertence, todo passado nos reconhece. O todo se desconhece, pois mesmo o todo é parte, mesmo todas as partes são uma parte. Desconhecida e intocável. Mas nem mesmo o intocável é inteiro, nem mesmo o desconhecido é único, puro ou perfeito. Nem mesmo nós, ingênuos e imaturos por acharmos que nos completamos. Que tolice. Se te completo, logo estamos estagnados e apodrecidos por inteiro num universo composto por partículas em movimento de uma eternidade quase invisível na imensidão de tudo que não é. Como um forasteiro. Livre me torno quando percebo que a nada pertenço até que eu me reconheça no todo, no inacabado e na insignificância perfeita em ser. Não alguém, mas discussões à parte, do que participamos em ser senão uma parte de tudo que nos faz parte, indo além da partida ou da dor de partir? Nada. Ser nada sempre nos motiva a nos reconhecermos em todas as coisas até percebermos que poder ser tudo está em aceitar a simplicidade complexa de ser nada. A gente é sempre mais bonito visto de longe porque quem vê de longe, vê tudo, mas quem vê tudo, vive nada.