sábado, 26 de julho de 2014

Cinema

Hoje está um pouco menos frio do que o normal e me sinto um pouco mais frio do que normalmente me sinto. Embora o calor permaneça o mesmo aqui dentro, me sinto meio desajustado. Parece que não me caibo. Que não me cabe. Parece que sou pequeno demais ao que estou disposto a consumir, embora isso às vezes me consuma mais do que qualquer outra coisa. Querer consumir consome mais o meu tempo do que o que consumo. Ando vendo menos filmes do que costumava ver. Isso me angustia e me tira do sério às vezes, pois cobro de mim consumir esse tipo de coisa. Não digo arte, porque é informação e há certa cobrança no que faço para manter-me fluente. Antes de qualquer coisa, cinema me traz uma informação singular, que é só sua e que só pertence à sua beleza em demonstrá-la da forma mais sutil possível. Quanto mais sutil for o filme, mais cabível ele está à arte. Quanto menos respostas, quanto menos cobranças, mais cinematográfica é a informação. Cinema é a falsidade na sua forma mais verdadeira; é aquilo que se contempla e se observa de forma sublime e analítica, indo muito além da tevê, embora sabemos que é apenas um esboço do que se vive, ou uma sátira do que se vê. Um rabisco. Sabemos que é mentira, entramos numa sala escura porque buscamos contemplar a farsa imaterial de uma verdade projetada. Sabemos que aquilo pode ser suposição, pode ser a opinião de uma pessoa que nem existe: um personagem. Não temos convicção se é aquilo que o cineasta pensa ou quer transmitir ou se é uma crítica, uma sátira ou uma provocação. Provocação. Eis a primordial função de um cineasta: provocar. Provocar na falsidade da encenação para que dela saia o máximo de sua verdade e de tudo aquilo que possa brotar dela. O que vemos no cinema é imagem, o que é preciso estar em pauta, estar em torno da informação e da provocação é e sempre será a imagem e a força que ela traz para todo o resto. O roteiro não pode ser senão uma moldura da imagética que só se torna possível pela admiração da imagem e toda a desenvoltura do seu movimento poético. Cobro de mim consumir tipos específicos de informação, deixando em segundo plano a retórica entre transbordar arte ou o pouco que se faz em prol da sua existência. Mas não importa se o filme é um clássico do cinema sueco ou se é um que acabou de sair em cartaz no cinema do shopping de uma sala só. Ver filmes constantemente consegue suprir uma necessidade que coluna de página ou livro algum consegue suprir: contemplar a imagem pensada e buscar sua profundidade nos mínimos detalhes, mesmo que imperceptíveis. Analisar a sua estética trabalhada pela sensibilidade do movimento e buscar a delicadeza destruidora que não se constrói nas palavras. A questão do cinema e a sua importância na minha vida pode ser imperceptível até mesmo aos meus sentidos, inconscientemente falando. Porém, fico abismado com a sua plenitude quando se envolve em expandir a sensibilidade no ser humano. Certamente, em livros e em outros meios de informação intelectual ou que se assemelha ao propósito do intelecto de manter a análise crítica e o senso de observação, são realmente realçadores de sensações e sentidos, desde transformar as palavras em opinião à imaginação. Criar imagens através das palavras. Sobretudo, há uma certa dificuldade no cinema que o impulsiona em criar significados através das imagens. Comunicar por imagens. Há uma sensibilidade intrínseca nessa forma de comunicação. Me sinto no dever de ressaltar a mim mesmo como o cinema é algo definitivo para a sensibilidade de interpretação e de profundidade aos sensores cognitivos. A formação da interpretação não se vale de palavras. Ressaltamos nossa perspectiva à imagem, pois a proposta na transformação cinematográfica está muito mais ligada no que assemelha aos olhos do que qualquer palavra ou crônica possa definir. Poderemos pensar em cinema quando nos apaixonamos, mas não podemos nos apaixonar mais por outra coisa que não seja cinema. Ele é tudo que se encaixa numa perspectiva um pouco mais ampla do que palavras e explicações podem oferecer; e pode ir além do que você pensa em oferecer. Aprendi pelo Cinema que a arte de observar e refletir está direcionada à observar arte ao que se vê e se projeta através de você.

2 comentários:

  1. Persistência retiniana. Nossa mente completa o movimento dos fotogramas da película. Nós sempre que damos movimento a vida.

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