sexta-feira, 28 de agosto de 2015

O mar disse que o erro é se apegar

Que quem desapega cresce. E eu, que nunca fui de me apegar e de permanecer, fiquei por você. Me apeguei a você. Não voltei por você. Eu, que sempre vou e volto como quem parte pra nunca mais voltar. Que não quis me despedir por saber que eu não pertenço a nenhum lugar. Eu, que nunca quis pertencer a ninguém. Nem tive pretensão de te amar. Só peço paciência. Me ensina a amar com os pés no chão, a ter equilíbrio. Me ensina a não tropeçar mais e a andar menos com a cabeça baixa. Me ensina, que eu te peço perdão e não me abalo se não houver gratidão. Não pelo que eu já fiz, mas por tudo que eu ainda carrego no peito. Por um coração mais integral e menos retalhado. Pelo teu amor de volta. Por tudo que não volta, mas que eu ouso resgatar. Se ao menos as tuas ondas me ajudassem a nadar, se ao menos eu percebesse que esse esforço todo é pra não deixar eu me afogar. Mas eu não te peço muito. Eu peço a tua mania, eu peço o teu abraço, o teu sorriso e o teu olhar. Não é por apego, mas pra não perder o compasso. Não perder o movimento, pra manter a saudade. Mas eu nem sei mais se eu posso esperar. A minha ânsia é muita, é voraz e pra ti anda tão mansa, anda dormente e meio sem esperança. Não precisa dizer muito, mas também não diz nada. Não faz do silêncio o meu desespero. Faz da minha confiança o teu grito que eu carrego a tua dor comigo. Faz arder, mas não mete o dedo na minha ferida. Não volta atrás e me mostra que eu te tenho por mais um dia. O mar me ensinou que o erro é se apegar, mas meu bem, não é por apego. É por dignidade.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

De(s)cente

A gente come enquanto espera o almoço ficar pronto. Faz esquenta pra encher a cara durante a festa e, se possível, no final dela também. Fuma cigarro já que a maconha acabou. Vive almejando sempre chegar mais perto da morte e da dor. A gente não come pelo prazer, pra sobreviver e pelo apreço que é a sobrevivência através do prazer. É pra fazer lotar até a barriga doer, enfatizar o arroto, ter azia e mal estar, pra mal poder se locomover quando levantar. A gente não bebe pra se divertir, pra compartilhar o hábito vulgar. A gente bebe até desmaiar, pra vomitar, cair e mal poder se levantar. A gente não fuma pra relaxar. A gente fuma até perder a consciência, qualquer coisa, de qualquer procedência, desde que sirva pra fugir do que não podemos fugir. Nem daqui, nem de nós mesmos. Até não poder se locomover, até o cérebro deixar de raciocinar, o pulmão apodrecer, o estômago se dissolver em tudo que não se alimenta por não parar de comer e até a bebida, de forma sutil ou visceral, se transformar em você. A gente quer fugir pra não perder essa coisa dentro da gente, esse vazio, essa ausência. Esse infinito muito mal escondido que só é preenchido pela essência.

sábado, 26 de julho de 2014

Cinema

Hoje está um pouco menos frio do que o normal e me sinto um pouco mais frio do que normalmente me sinto. Embora o calor permaneça o mesmo aqui dentro, me sinto meio desajustado. Parece que não me caibo. Que não me cabe. Parece que sou pequeno demais ao que estou disposto a consumir, embora isso às vezes me consuma mais do que qualquer outra coisa. Querer consumir consome mais o meu tempo do que o que consumo. Ando vendo menos filmes do que costumava ver. Isso me angustia e me tira do sério às vezes, pois cobro de mim consumir esse tipo de coisa. Não digo arte, porque é informação e há certa cobrança no que faço para manter-me fluente. Antes de qualquer coisa, cinema me traz uma informação singular, que é só sua e que só pertence à sua beleza em demonstrá-la da forma mais sutil possível. Quanto mais sutil for o filme, mais cabível ele está à arte. Quanto menos respostas, quanto menos cobranças, mais cinematográfica é a informação. Cinema é a falsidade na sua forma mais verdadeira; é aquilo que se contempla e se observa de forma sublime e analítica, indo muito além da tevê, embora sabemos que é apenas um esboço do que se vive, ou uma sátira do que se vê. Um rabisco. Sabemos que é mentira, entramos numa sala escura porque buscamos contemplar a farsa imaterial de uma verdade projetada. Sabemos que aquilo pode ser suposição, pode ser a opinião de uma pessoa que nem existe: um personagem. Não temos convicção se é aquilo que o cineasta pensa ou quer transmitir ou se é uma crítica, uma sátira ou uma provocação. Provocação. Eis a primordial função de um cineasta: provocar. Provocar na falsidade da encenação para que dela saia o máximo de sua verdade e de tudo aquilo que possa brotar dela. O que vemos no cinema é imagem, o que é preciso estar em pauta, estar em torno da informação e da provocação é e sempre será a imagem e a força que ela traz para todo o resto. O roteiro não pode ser senão uma moldura da imagética que só se torna possível pela admiração da imagem e toda a desenvoltura do seu movimento poético. Cobro de mim consumir tipos específicos de informação, deixando em segundo plano a retórica entre transbordar arte ou o pouco que se faz em prol da sua existência. Mas não importa se o filme é um clássico do cinema sueco ou se é um que acabou de sair em cartaz no cinema do shopping de uma sala só. Ver filmes constantemente consegue suprir uma necessidade que coluna de página ou livro algum consegue suprir: contemplar a imagem pensada e buscar sua profundidade nos mínimos detalhes, mesmo que imperceptíveis. Analisar a sua estética trabalhada pela sensibilidade do movimento e buscar a delicadeza destruidora que não se constrói nas palavras. A questão do cinema e a sua importância na minha vida pode ser imperceptível até mesmo aos meus sentidos, inconscientemente falando. Porém, fico abismado com a sua plenitude quando se envolve em expandir a sensibilidade no ser humano. Certamente, em livros e em outros meios de informação intelectual ou que se assemelha ao propósito do intelecto de manter a análise crítica e o senso de observação, são realmente realçadores de sensações e sentidos, desde transformar as palavras em opinião à imaginação. Criar imagens através das palavras. Sobretudo, há uma certa dificuldade no cinema que o impulsiona em criar significados através das imagens. Comunicar por imagens. Há uma sensibilidade intrínseca nessa forma de comunicação. Me sinto no dever de ressaltar a mim mesmo como o cinema é algo definitivo para a sensibilidade de interpretação e de profundidade aos sensores cognitivos. A formação da interpretação não se vale de palavras. Ressaltamos nossa perspectiva à imagem, pois a proposta na transformação cinematográfica está muito mais ligada no que assemelha aos olhos do que qualquer palavra ou crônica possa definir. Poderemos pensar em cinema quando nos apaixonamos, mas não podemos nos apaixonar mais por outra coisa que não seja cinema. Ele é tudo que se encaixa numa perspectiva um pouco mais ampla do que palavras e explicações podem oferecer; e pode ir além do que você pensa em oferecer. Aprendi pelo Cinema que a arte de observar e refletir está direcionada à observar arte ao que se vê e se projeta através de você.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Quando se envelhece por dentro

Acordei com um gosto pegajoso e quente de sangue na boca. Mais gosto de ferrugem do que sangue, porém, mais doce do que ferro enferrujado. Não sei se estou apodrecendo por dentro como o ferro, sobretudo, ninguém precisa ser um bom entendedor da vida pra ver através desses meus olhos fundos cercados por uma olheira profunda e estável que tenho chorado demais nas últimas semanas. Confesso que o gosto não é tão ruim quanto costuma ser quando acordo pela manhã. O gosto é menos putrificado e mais ácido. Não me importo com a acidez. Ela é o de menos. Parecia que eu chupava uma pedra enquanto dormia, depois a engolia e ela dilacerava toda a minha garganta enquanto descia. Deus, que sonho dos infernos! Não me lembro de nada, mas a minha memória está latejando como se eu tivesse sido espancado a cada hora de sono. Ao menos levei no máximo uns quatro socos enquanto dormia; talvez tenha sido a parte boa de ter dormido tão pouco. Sempre tento me manter otimista mesmo na pior das hipóteses. Acordei nocauteado por memórias infernais. Disposto a largar tudo por nada. É preferível ter nada quando não se tem escolha. Eu me lembro de uma coisa:  você dizia pra eu me levantar. Isso me motivava mais e você dizia "levanta, eu quero te acertar em cheio dessa vez. Não se manterá estável comigo enquanto puder se levantar com os próprios pés." E eu pensei que estivesse brincando, que fosse algum tipo daquelas brincadeiras sem graça que volta e meia quando eu tô viajando levo um tapa no ouvido. Pensei que fosse passageiro. Não é legal, mas não chega a ser imperdoável. É meio incompreensível pra mim essa tua crueldade em sentir prazer ao me ver sangrar. Enquanto tudo que eu pedia era amor. Não entendo o que eu fiz pra você continuar me levantando e me acertando com tudo bem no meio daquela linha na face que separa o nariz da boca. Sempre pega no nariz, merda. Não entendo por qual motivo ri disso. O fato é que não é engraçado. Nas primeiras vezes você releva e pensa que é fase, que mulher é tudo igual e que logo eu te faço ver que o amor não precisa machucar dessa forma. Eu também sei que o amor não é tudo isso que você diz, ele é tão banal quanto o soco que eu levo quando você pensa que faço pouco caso do teu sorriso. Sei que já estou velho e que você é bem mais nova. Mas a dor de envelhecer não faz amenizar a dor de carregar você nas costas, e você ainda espera que eu mude a sua vida. Que eu te prove que as cores do pôr do sol são feitas pelo mesmo sol que você reclama o dia todo enquanto mete a cabeça pra fora de casa às onze e meia da manhã. Sei que sou extremamente rabugento quando você sai com as amigas e nem me avisa, mas que diabos de homem eu seria se não ficasse puto da vida?! E sempre que te convido pra sair pra dançar como nos velhos tempos, (eu sei que não danço mas faço por amor e por amar te ver dançar) você diz que a dor de cabeça já consumiu todo o seu corpo. Tento pensar que não é pessoal há uns 30 anos. Droga. Em pensar que fazem 33 anos e meio que eu digo o quanto você é linda e gostosa quando acorda, mesmo não sendo tão sedutora e irresistível quanto há uns anos atrás. Você sabe que não te troco por nada. Eu já te amei tanto e agora tudo que eu sinto é a dor de ter que te carregar enquanto você soca as minhas costas para eu ir mais depressa pra te reerguer quando estiver deprimida. E eu ainda tenho a audácia de perguntar quando é que você vai decidir dizer que me ama e a minha cabeça continua martelando que provavelmente vou ouvir isso quando estiver sem as pernas ou perder a audição. Não faz diferença, de qualquer forma já vou estar muito fodido pra correr atrás de você ou muito velho pra ouvir a tua voz. Bosta, já nem me lembro mais se fazem 19 ou 20 anos que venho dizendo que sou velho demais pra viver nesse lugar.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

E eu que pensei que não poderia nadar como antes, vi você se afogar. Eu nem pensei duas vezes até me jogar nesse mar frio de incerteza e insegurança. E eu que pensei que iria olhar pra trás e perceber que a sombra do que fui é o que me faz retirar toda a certeza de recomeçar. Eu nem percebi que aquele sorriso pertencia a mim. Ninguém mais me arrancaria o gosto de olhar pro lado e ver no rosto de alguém que quis ser feliz em tudo que era triste e impossível de amar. Ninguém mais saberia o que é sentir aquela dor que ela sentia. Parecia nossa. Não era mais dela, mas minha. A gente sempre percebe que um pouco de sensibilidade faz mal pra alguém, mas não pra você que estava cansada de socorrer quem nunca olhou além do que o olhar vê. Não dá pra olhar pra frente sem ver que além da estrada você me faz querer viver como alguém capaz de arrancar toda essa a dor que isola a tua paz. Soltar toda essa raiva não adianta nada se não for por você. De vez em quando eu olhava cabisbaixo de novo, tanta gente olhando e te apreciando como abutres. Mal sabiam que aquele rosto não estava morto. Era uma tristeza quase impenetrável, porém não pra um lobo. Só estava cansando ou repousando a dor que já não latejava mais, só amortecia a dormência do que restava de rancor nas entranhas. Não sabia que esperava por alguém até me ver chegar e limpar aquela lágrima que caía do teu rosto e olhar nos olhos como se estivesse encarando a própria solidão e o próprio reflexo. Não do que fui, mas do que eu sempre serei. Incompreensão. E por sermos incompreendidos eu me rendo a qualquer risca tudo que me for de essência por um pedaço desse amor. Não me compreenda, não responda meus anseios, não aquiete a minha alma. Me tire do lugar, me faça lutar por algo distante, me faça cuidar de ti por um instante. Te provo que sou leal à tua doçura e que homem nenhum jamais vai notar o que vejo nos teus traços mais profundos, nas tuas raízes mais opacas, nos teus defeitos mais inertes. Me deixa te machucar algumas vezes, te fazer chorar por apreciar tua dor porque não há nada mais bonito. Cuido de você e choro contigo. Me deixa fazer prometer que ninguém mais lhe fará isso. Nem machucar por prazer, nem encostar em uma lágrima tua sem sentir por dentro metade do que ela significa. Compartilha o teu desespero comigo. O teu medo da solidão. Me faz ser sozinho, me faz triste, me faz um garoto ferido, mas me faz um homem pra ti. Me deixa ser tua raiva, tua brutalidade. Me empresta tua delicadeza nos gestos e teu abraço sincero pra suportar a superficialidade que nos cerca. Me traz tua indiferença e te dou minha indignação. Me empresta o poder do teu raciocínio que eu te dou a flexibilidade do ser criativo. Me faz teu porto que o meu navio é teu. Me dá a chave do teu coração. Eu te dou o meu coração por inteiro, porque a chave já devo ter engolido há algum tempo. Me traz qualquer resquício do teu sorriso. Eu te ensino a comunicação vulgar da crítica e você me mostra o dom de silenciar. A gente não precisa combinar, fazer acordo, rotular ou padronizar. Só quero a tua permissão. E qualquer abismo não me abala, qualquer barreira não passa de um detalhe. E ninguém nesse mundo vai poder nos separar, não do lugar que nos pertence, das nossas lembranças, do que você vai guardar de mim, da nossa incompatibilidade perfeita, por mais que um dia queira, exista ou inventem o fim.

domingo, 8 de setembro de 2013

Eu sei que somos maiores que o drama, eu sei que somos melhores do que somos. Eu sei que não somos. Eu não sei bem o que sei, mas sinto que deveria saber e sempre prefiro sentir ao saber. Prefiro me descobrir no que sinto do que querer saber demais sobre o que só vive através do desconhecido. O mundo inteiro sabe, o mundo é sábio e nos julgamos felizes e certos por isso. Vivemos em um mundo extraordinário e incrível. O mundo deixou de ser o detalhe, começou a ser o centro. Quanto mais tivermos do mundo, melhor. Mas é um equívoco. Jamais teremos se quer um grão de areia do que julgamos obter. Nós somos parte do todo, e como parte, somos um detalhe; e o detalhe nada obtém. Tudo absorve, tudo que é invisível nos acrescenta, tudo que ousamos possuir nos destrói. Esquecemos que há um mundo em cada detalhe e que cada mundo é apenas um resquício no infinito. O meu medo é ser igual a todos que já disseram amar de verdade. Quem ama não diz. O amor é raro às palavras e sensível ao verbo. Não digo que amar não é pra qualquer um porque qualquer um é amor. O amor é pra todos, o amor é sutil, amar é se reconhecer pequeno num imenso oceano de sensibilidade que está no detalhe e não no incrível. Está no diverso e no sorriso, não no tamanho do abismo. Esqueço o que eu sei sobre amor. Sinto que me esqueço de amar quando penso que sei demais. E isso é um paradoxo se o que aqui escrevo é só por amor. Mas vivo por isso. Não importa o quão entendedores nos julgamos, o quanto vivenciamos para encontrar amor no outro se não vigiamos o nosso olhar. Quando tu diz, ele já foi. O amor está no discreto, no pequeno, num abraço meio abalado, no sorriso errado, no corpo gelado que espera tanto quanto dói. Ele inibe a dor, esmaga todos os sentidos, distorce o tamanho, ocupa o que parecia transbordado e se dissolve no vazio, no nada ou em si mesmo. A gente sente nada além de tudo que jamais pensou em sentir. É tão grande que nem cabe ali, não nos cabe. Ele dança entre a gente. Ele nos escorre pelos dedos, pelos nossos cabelos, nos faz brilhar e nos faz enxergar mais em nós mesmos. Nos sentimos refletidos no outro, compreendemos o olhar e faremos qualquer coisa por esse amor que se materializa através das nossas veias e deságua no pulsar de um coração colado ao outro. Ele tem tanto à nos dar, a nos fazer sentir que não poderia se ocupar nas palavras. Está em cada letra de quem diz, em cada frase dita pela boca de quem ama. Mas só vai até a boca, pára no corpo, porque o amor toma o o ser, não se importa com o verbo. Quando se dissolve no ar e destrói a incerteza do que se sente, ele nada mais é do que desgaste. É até um perigo eu dizer o que sinto se dizer me distancia dos meus sentidos. É superficial aquele quem muito diz o que sente. Mas eu escrevo, escrevo porque sinto muito, e, de alguma forma isso amplia minhas percepções, principalmente dos meus sentimentos. É engraçado quando percebo que há amor nessas palavras, quando na verdade não há. Há amor em que lê, não nas palavras de quem escreve. Quem escreve necessita do amor de quem lê, para que nas palavras, o amor do escritor se reconheça em você.

sábado, 7 de setembro de 2013

A parte é o que nos faz partir

Toda vez. Toda maldita vez que eu abro os olhos e enxergo o que não deveria ver reparo no paradoxo natural da vida, na contradição de todos os fatores multiplicáveis que se resumem à todas as coisas indivisíveis se distorcendo à hipocrisia humana. Não é grande verdade que o ser humano seja a maior forma viva do quão imbecil a genialidade  possa ser. Não é grande verdade que o ser humano seja a única raça criadora e criatura que exista nesse planeta; tão certa de si e egocêntrica que é capaz de constituir um líder imaginário,  um ser supremo e dono de todas as coisas possíveis e impossíveis existentes, não-existentes e que ainda hão de existir, construído e moldado fisicamente, psicologicamente e frequentemente através dos padrões humanos de análise. Como um ser espiritual projetado em um nível de compreensão inalcançável, porém, com julgamentos, condenações e conveniências humanas. Sentimentalista e obsessivo ao ponto de vista de qualquer um que julgue a si mesmo pecador. Mas quem criou Deus senão o ser humano? Quem é o grande criador de todas as coisas possíveis e impossíveis, pensáveis e impensáveis, existentes e inexistentes? Eu só vejo a humanidade julgadora do universo, de todo o desconhecido vendo como base um Deus: a eterna hipocrisia travestida de paradoxo, o inacreditável em forma de conveniência. É inacreditável que ainda precisemos de Deus para existirmos. Por que não a contradição que é ser indivíduo e parte de tudo ao mesmo tempo, a busca maior pela compreensão de si mesmo ao invés de algo incompreensível mas condenador? O criador somos nós e tudo que envolva pecado está em Deus. Porque quem cria não tem medo da pressão, quem cria já se pressiona demais em tudo que faz. Quem cria não tem receio da condenação. Abençoemos os que ainda criam. Todos levamos um pouco de culpa no que somos. Somos culpados por existirmos e talvez o peso seja necessário para que a essência não morra. O ser humano tão íngreme e objetivo, capaz de destroçar qualquer certeza e liquidar com qualquer imposição, indo além do olhar e da própria existência. Não é grande verdade que a humanidade seja a maior destruidora de paradigmas. Isso é incrivelmente desafiador à todas as outras coisas vivas que ainda existem com a coexistência do ser humano. Eu generalizo porque somos engrenagem e a parte nada é senão o resto do todo. O resto nunca tem grande importância, senão sustentar toda a merda e o lixo do todo.  Sustentar. Para a humanidade isso tem pouca importância. Todos querem o topo porque a arrogância e a ganância é o que faz pulsar um Deus estabelecido por fatores egoístas. Deus nos põe no topo porque ele é conveniente à insignificância de tudo que o ser humano quer. A humanidade nem sabe o que quer além de estar no topo. Todo o resto é pecado e eu imploro, do fundo do coração, do fundo da minha insignificância que alguém abençoe os pecadores. Os sustentadores desse planeta criado por um Deus que só abraça o topo. Uma raça individualista ao extremo e extremista à todas as coisas miseráveis. Se Deus faz parte de alguma coisa, ele faz parte dessa raça, faz parte do topo; não do todo. A gente quer gritar por liberdade, almejar a liberdade, mas jamais ser livre. Porque ser livre dói. Cuidar e ser responsável por si mesmo dói e, nós não queremos dor. Queremos Deus. Queremos alívio pelo que não precisa aliviar. Não queremos sentir nada além de segurança, que é sentir o mínimo para sobreviver. Sobrevivência é o que esperamos de Deus. E eu ainda acredito na existência de um Deus que vive, que viva o suficiente para permitir a vida, respeitar e conspirar a favor de todo o resto que sustenta o lixo. Eu ainda acredito num Deus que faça nada além de afastar Deus da humanidade. Eu acredito que assim como o vazio, a humanidade possa ser flexível a ponto de sustentar e recriar tudo que favorece o topo e isola o resto. Independência! É o que clamo por todos. Morte! é o que grito ao topo.